Custos Impraticáveis

O custo de produção de batata é composto basicamente dos seguintes itens: semente, tratos culturais, fertilizantes, defensivos, colheita e beneficiamento, custos administrativos e financeiros. A semente até o aparecimento da variedade Ãgata foi o item mais oneroso para produzir, pois geralmente representava cerca de 25% do custo de produção. Apesar de este item ser considerado elevado, a qualidade e, principalmente, a menor ocorrência de problemas fitossanitarios compensavam o investimento. Com o surgimento da variedade Ãgata que brota em menos de 20 dias e “vira” semente, a maioria (mais de 90%) dos produtores passou a utilizar parte da produção de batata consumo como semente. Os resultados desta mudança foram, sem dúvida, a redução do custo da semente e a explosão de problemas fitossanitarios – murchadeira, sarna comum, sarna prateada, nematóides, viroses, traça etc.

As despesas com tratos culturais como o preparo do solo, amontoa, pulverizações, irrigação, colheita, frete etc aumentaram significativamente devido, principalmente, ao aumento no preço do óleo diesel. Os custos para o beneficiamento ou lavagem, administrativos e financeiros também aumentaram devido às novas exigências criadas nas legislações tributaria, ambientais e trabalhistas. As despesas com defensivos também estão aumentando. Em média, os produtores realizam 15 aplicações, porém este número pode variar de menos de 10 até mais de 25 aplicações por ciclo da cultura.

Além do aumento do preço, quase que diário, dos fertilizantes, para complicar ainda mais estão também em falta no mercado. Certamente esta política de preços está relacionada à elevação do preço do petróleo e ao aumento da demanda mundial por fertilizantes. Em pouco tempo os preços aumentaram mais de 300% e a tendência é continuar subindo.

Diante desta situação o custo de produção de batata no Brasil já está próximo de R$ 20.000,00/ha (vinte mil reais/ hectare) e consequentemente um saco de batata (50kg) custará em média de R$ 30,00 a R$ 40,00 (500sc/ha), ou seja, de R$ 0,60 a R$ 0,80/kg. Esta situação tornará impossível a produção de batata no Brasil.

Assim, podemos realizar a seguinte simulação – se o custo de produção de um saco de 50kg for de R$ 30,00 a R$ 40,00, e o produtor vender de R$ 45,00 a R$ 60,00, e ainda o atacadista vender de R$ 60,00 a R$ 75,00, e o varejista de R$ 100,00 a R$ 150,00, o consumidor poderá comprar 1kg de batata de R$ 2,50 a R$ 3,00.

Certamente com estes preços os consumidores deixarão de consumir batata no Brasil e passarão a consumir outros produtos mais acessíveis, ou seja, aqueles que não necessitam tanto de fertilizantes, óleo diesel etc ou consumirão batatas importadas dos países hermanos ou batatas que viajarão 11 mil quilômetros em navios que transportaram frango para o velho continente.

Sem dúvida, esta situação é fruto que amadureceu na árvore da globalização a consolidação do poder da indústria dos fertilizantes nas mãos de poucas empresas, o preço do petróleo e a modernização das legislações trabalhistas, ambientais e tributárias.

À medida que a globalização avança, pessoas, governos, empresas, instituições etc. mais “eficientes” estão dominando economicamente as atividades locais, continentais ou mundial.

Os principais resultados dessas dominâncias convergem para a concentração de renda e exclusão social, ou seja, a cada dia menos pessoas estão muito, mas muito mais ricas e muitas pessoas estão cada vez mais pobres ou miseráveis. Ou seja, se esta tendência persistir, teremos poucos produtores de batata milionários e a exclusão de quase todos os remanescentes.

Autor: Natalino Shimoyama, Gerente Geral ABBA

Fonte: Revista Cultivar HF - Junho / Julho 2008

http://www.cultivar.inf.br
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