Sobrevivência ameaçada.

O número de produtores de batata reduziu de mais de 30 mil para aproximadamente cinco mil nos últimos 20 anos. Os produtores remanescentes estão atualmente distribuídos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Espírito Santo e Paraíba.

Essa fenomenal mudança é consequência da “evolução” da globalização, e, entre os diversos fatores que provocaram essa enorme redução, destacamos alguns fatores que podem ser considerados “falhas” do governo e outros que podem ser considerados como “falhas” dos produtores de batata.

Entre os fatores que podemos considerar como sendo “falhas” do governo destacamos:

• A abertura das fronteiras brasileiras, de forma totalmente desorganizada, permitiu as importações de significativas quantidades de batata fresca e de produtos processados à base de batata. Atualmente o volume importado corresponde a mais de 10% da produção nacional. Enquanto no Brasil qualquer importação de batata (fresca ou processada) tem sido taxada na média em menos de 10%, no México a tributação foi de aproximadamente 300% durante três anos na ocasião da abertura das fronteiras para cumprir com os acordos do Nafta. Durante esse período, a Cadeia Mexicana da Batata teve condições de se organizar para conviver com as competitivas cadeias da batata dos Eua e do Canadá.

• O sistema financeiro do Brasil continua criando numerosas oportunidades para que muitos “comerciantes” pratiquem calotes. Os elevados índices de inadimplência, resultado da falta de pagamento praticado em todas as regiões produtoras do Brasil, causaram a quebra de milhares de produtores.

• A falta de modernização ou a criação de legislações absurdas resultaram e continuam contribuindo para a quebra financeira de muitos produtores. Podemos destacar as legislações trabalhistas, ambientais etc. que nem sempre são adequadas, porém as punições e penalidades, quando aplicadas, geralmente afetam somente bons produtores…

• Retração de Consumo – o crescimento do número de desempregados, os levados preços de venda, a liberdade da mídia, etc. contribuem fortemente para a redução do consumo.

Entre os fatores que podemos considerar como falhas dos produtores destacamos:

• Gestão Administrativa – a falta de um controle administrativo e financeiro profissional resultou na falência de muitos produtores devido à ausência de investimento, à aquisição de supérfluos, atritos familiares etc.

• Falta de União Profissional – ao invés de se unir para competirem contra o verdadeiro adversário que são outros países, os produtores e regiões continuaram competindo entre si. A heterogeneidade de origens (italianos, japoneses, poloneses, holandeses etc.) e naturalmente as diferenças culturais impedem a união profissional dos produtores brasileiros de batata.

• Custo de produção – Enquanto alguns produtores conseguem produzir uma saca (50 Kg) a menos de R$ 15, outros produzem a mesma quantidade por mais de R$ 30… Essa brutal diferença deve-se principalmente aos elevados custos da batatasemente, do beneficiamento, de baixa tecnologia etc.

• O aumento da produção e a oferta de variedades culinariamente insatisfatórias aos consumidores (bonitinha, mas ordinária) também têm sido determinante para a redução do número de produtores. Muitos consumidores cansaram de ser enganados e mudaram para outros alimentos.

Certamente o Brasil jamais deixará de produzir batata, porém ainda muitos produtores sairão do ramo. Os sobreviventes serão poucos, mas poderiam ser mais. Quem sabe um dia tenhamos pessoas no governo que apoiem profissionalmente a Cadeia Brasileira da Batata e deixem de contribuir para a extinção dessa importantíssima cadeia produtiva.

Autor: Natalino Shimoyama, Gerente Geral ABBA

Fonte: Revista Cultivar HF - Outubro / Novembro 2006 - Ano VII - nº 40

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