Vírus-Responsabilidade no critério de amostragem e interpretação de resultados laboratoriais em batata semente

José Marcos Bernardi


batata@solanex.com.br


(19) 3623-2445


 


Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas. A célebre frase do pensador Antoine de Saint-Exupéry, poderia muito bem ser adaptada para o tema do título, porém em vez do verbo cativar, poderíamos substituir pelo verbo avaliar, para o caso da interpretação de resultados laboratoriais em batata semente ou mesmo pela forma de conduzir o método de amostragem para fins de diagnóstico ou de avaliação da qualidade. Se não ficou muito claro, quero dizer que é preciso muita cautela e responsabilidade para qualquer pessoa que integra a indústria e a cadeia da batata, ao avaliar, opinar, diagnosticar e opinar precipitadamente diante de uma situação não científica, quando se quiser avaliar a qualidade de um lote ou partida de batata sementes. Principalmente as pessoas mais esclarecidas, melhor informadas, que detêm maior poder de divulgação pela entidade que representam ou pelo canal de informação que dispõem. É muito bom e oportuno que se esclareça de uma vez por todas a diferença entre estes dois procedimentos: diagnóstico e avaliação de qualidade. Pois além do respaldo científico, as normas regulamentadoras oficiais têm poder de lei e devem ser respeitadas como tal. Uma conclusão equivocada ou um método equivocado poderá condenar ou absolver lotes inteiros e causar prejuízos de grande monta, seja para o caso do descarte de um lote de boa qualidade, seja pela aceitação e plantio de um lote com alto índice de infecção ou infestação. Vamos nos ater neste artigo apenas nos equívocos com amostragem e conclusão baseados nos resultados de laboratório. Oportunamente comentaremos outra face do problema, que se encontra na realização dos testes sorológicos propriamente ditos pelos laboratórios credenciados e consequentemente, resultados completamente diferentes e contraditórios. Mas isto é outra história, e a Coordenação Geral de Laboratórios – CEGAL do Ministério da Agricultura já está se encarregando deste problema. Muito apropriadamente, a Engenheira Agrônoma Rosangele Balloni R. Gomes do Ministério da Agricultura e membro da Subcomissão de Batata Semente, vinculada a CESM SP, durante os dois anos que participou das reuniões da subcomissão para elaborar a nova redação das Normas de Produção de Batata Semente, com sua excepcional experiência em análises e sementes quando era funcionária da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, pode esclarecer e muito bem o porque das errôneas conclusões nos resultados laboratoriais. Pois muito bem, para ilustrar o que está acontecendo, os lotes de batata semente que estão sendo encaminhados para exames laboratoriais estão sendo amostrados, e diga se de passagem, há muito tempo e por muita gente, de forma totalmente empírica ou sem o mínimo de cunho científico, o que é vital para se fazer uma avaliação de qualidade. Para a análise de qualidade e sanidade, é necessário que exista um padrão oficial, normatizado, que para o caso da batata semente nacional ou importada, esta regulamentado pela IN 12, e a este se compara o número de tubérculos amostrados, número este também regulamentado na mesma norma oficial, com a tabela de limites de tolerâncias. Ainda está em vigor a IN 12 que define em 110 tubérculos o número a ser amostrado em 25 toneladas (01 container de 40 pés), e que está sendo sugerido a alteração para 400 tubérculos na minuta da nova norma a ser apreciada pelo Coordenador de Sementes e Mudas, e posteriormente, à consulta pública. Quando então se amostra os 110 tubérculos, que após serem analisados por Laboratório Oficial ou Credenciado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA de posse do laudo se compara os resultados aos limites estabelecidos em norma e se conclui que aquele lote ou partida, está ou não dentro dos limites dos padrões estabelecidos. Quando o produtor ou curiosos pegam meia dúzia de tubérculos e levam ao laboratório, que estão fazendo é apenas diagnóstico, ou seja, verificando se tem ou se não tem a praga ou doença em questão, mas nunca excluir ou incluir em uma categoria de sementes com aquele resultado. Isto é o que está sendo feito, por desconhecimento, curiosidade ou às vezes por economia (sim, eu mesmo testemunhei um produtor, não dos pequenos – levando três tubérculos para o Laboratório da Seção de Virologia do IAC- Instituto Agronômico de Campinas). Portanto, só se pode dizer se o lote de sementes está ou não de acordo com a classificação estabelecida em norma oficial, se for amostrado e analisado segundo os critérios das mesmas normas. Recentemente, por uma amostragem de 42 tubérculos de uma importação de 25 toneladas, um laboratório não oficial, e não credenciado pelo MAPA, analisou os tubérculos para verificação de vírus Y, e deu como resultado em porcentagem, os resultados da análise dos 42 tubérculos. Equivocadamente, o cliente importador que não tem formação técnica pra saber o que significa aqueles números (e nem tem obrigação de saber) concluiu que se tratava da mesma porcentagem a que se refere a IN 12 em seu anexo “Tabela De Níveis De Tolerância, em Porcentagem de Tubérculos Atacados, para Pragas Não quarentenárias Regulamentadas, Danos e Misturas na Batata Semente a ser Produzida, Importada e Comercializada no País”. Ali constam os índices em percentagens, mas para uma amostra de 110 tubérculos, conforme estabelece a Instrução Normativa. Não é preciso esclarecer que o prejuízo foi grande, para quem vendeu a batata importada explicar, através de viagens, nova amostragens em campo, novos exames em laboratórios e com os padrões da IN 12, comprovar o que é científico e o que é empírico. Desta forma urge das autoridades, profissionais e técnicos envolvidos com a produção e comercialização da batata semente no Brasil, a responsabilidade de esclarecer como deve ser feito o procedimento desde a amostragem até a conclusão dos resultados do laboratório. Caso não saibam, que não se arrisquem a emitir opiniões empíricas e também uma necessária e providencial revisão completa na tabela, não somente no conteúdo dos limites como no grau de incidência dos mesmos e principalmente dos métodos dos laboratórios que estarão analisando as sementes amostradas, porque os resultados são muitos contraditórios. 

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