Esverdeamento da Batata

Prof. Fernando Luiz Finger

Departamento de Fitotecnia

Universidade Federal de Viçosa

36570-900, Viçosa, MG

 

Os tubérculos da batata tornam-se verdes quando expostos à luz, esse processo é chamado de esverdeamento. Tal processo se deve à transformação dos amiloplastos em cloroplastos pela síntese de clorofila, substância que não apresenta paladar e não causa nenhum problema de saúde ao ser consumida. Porém, ao mesmo tempo em que a luz induz a síntese de clorofila, há também estimulo da síntese de glicoalcalóides, que em concentrações elevadas, causam problemas de toxidade ao ser ingerido pelos humanos. Desta forma, a coloração esverdeada da casca da batata serve como o principal indicativo da presença de altas concentrações de glicoalcalóides na batata. Notadamente, sabe-se que a síntese de clorofila e dos glicoalcalóides são independentes, mas ambas estimuladas pela presença de luz solar ou de natureza artificial. O esverdeamento se concentra em sua maioria na casca da batata, com formação de intensa cor verde, no entanto, a síntese do pigmento se estende ao interior do tubérculo com menor intensidade de cor (Figura 1).

1

Figura 1. Aparência externa e interna do tubérculo esverdeado pela luz natural no campo de produção.

A síntese de glicoalcalóides ocorre em todas as partes da planta da batata, como as folhas, flores, frutos, hastes e tubérculos. Em diversas espécies de plantas da família das solanáceas foram identificados mais de 80 diferentes tipos de alcaloides, porém, na batata, 95% dos glicoalcalóides presentes nos tubérculos são compostos por a-solanina e a-chaconina. Acredita-se que a síntese destes compostos se deva a um mecanismo de defesa da planta ao ataque de herbívoros principalmente. Porém, diversos estudos têm demonstrado que não existe correlação positiva entre o conteúdo de glicoalcalóides e o nível de resistência da batata a infecção por fungos patogênicos, como por exemplo, ataque por Phythophora infestans (Khan et al. 2013).

Altas concentrações dos glicoalcalóides conferem um gosto amargo ao produto processado, tornando o paladar desagradável ao consumidor. Porém, pequenas concentrações de glicoalcalóides, que estão naturalmente presentes na batata não esverdeada, conferem gosto desejável à batata. Independente se a batata for fritada, cozida ou assada há apenas eliminação parcial dos glicoalcalóides pelas altas temperaturas a que a batata é submetida durante o cozimento. O cozimento da batata no vapor ou em água reduz os níveis de glicoalcalóides entre 30 a 40%. O gosto amargo da batata se manifesta quando a concentração de glicoalcalóides for igual ou superior a 20 mg por 100 g de batata, considerado este o limite máximo de segurança para o consumo pelo ser humano.

Na maioria das cultivares, onde não tenha ocorrido esverdeamento, a concentração de glicoalcalóides na batata descascada situa-se entre 0,10 e 4,5 mg por 100 g de produto fresco do tubérculo inteiro. Porém, os valores encontrados na casca variam de três mg por 100 gramas, em tubérculos não esverdeados, atingindo valores superiores a 100 mg de glicolcalóides por 100 g de casca em tubérculos com casca esverdeada (Cantwell, 1996). Para que uma pessoa apresente sintomas de toxidez, como náuseas e vômitos, esta deverá ingerir cerca de dois mg de glicoalcalóides por quilograma de peso vivo da pessoa. Assim, se a batata tiver 10 mg de glicoalcalóides por 100 g de peso fresco de batata, uma pessoa pesando 80 kg terá que ingerir 1,6 kg de produto para manifestar algum dos sintomas de toxidez relacionados com a ingestão de glicoalcalóides.

Uma questão vem à mente dos consumidores: A batata com coloração esverdeada pode ser consumida com segurança? Pode, desde que a batata seja descascada com maior profundidade, visto que aproximadamente 90% da a-solanina e a-chaconina se acumulam até os três mm abaixo da casca. Logo para segurança do consumidor, o descascamento da batata deve ser mais profundo, entre três e cinco mm abaixo da casca.

A a-solanina e a-chaconina são compostos nitrogenados que são metabolizados lentamente pelo organismo humano causando sintomas de náusea, diarreia e vômitos. Por outro lado, em baixas concentrações há efeitos benéficos dos glicoalcalóides ao organismo humano, como a redução dos níveis de glicose e do colesterol no sangue, ação anti-inflamatória e antifebril, e redução do crescimento de células cancerosas (Camire et al., 2009).

O esverdeamento do tubérculo pode ocorrer durante o crescimento e na pós-colheita da batata, mesmo em presença de baixas intensidades luminosas, comuns em ambientes interiores. No campo, o controle é feito pela amontoa e na pós-colheita pelo armazenamento em local escuro. No caso de exposição nos locais de venda, recomenda-se expor o produto longe da incidência direta de luz e, se possível, distante de locais onde há elevada claridade, especialmente luz branca próxima a janelas. As batatas são mais sensíveis à síntese de clorofila entre os comprimentos de onda entre 400 e 700 nm no espectro de luz com intensidades luminosas baixas variando de 2 a 10 mmol/m2/s (Grunenfelder et al., 2006). Essa condição de luminosidade está presente na maioria do interior das casas e locais de venda de produtos hortícolas.

Ao se armazenar a batata em casa, o consumidor deve proteger os tubérculos da luz, colocando o produto em local escuro e fresco. Recomenda-se colocar as batatas em caixas de papelão ou em sacos de papel pardo até o consumo para evitar a ação direta da luz. Os atacadistas devem manter sacos de tubérculos em estoque no escuro o maior tempo possível, evitando a luz direta sobre os sacos ou caixas de transporte. O uso de ceras de revestimento dos tubérculos não evita o esverdeamento.

A batata comercializada não lavada (escovada) pode mascarar a presença de muitos defeitos, entre eles a presença das regiões esverdeadas na casca da batata, assim antes de realizar o descascamento do tubérculo para o consumo, deve-se realizar a lavagem completa para que possa identificar as áreas verdes da casca.

 

 

VEJA TAMBÉM

Utilfértil inaugura nova unidade de fábrica

A Utilfértil Fertilizantes, para fortalecer ainda mais sua missão no mercado junto aos clientes, inaugurou sua terceira unidade industrial de mistura, dobrando sua capacidade de produção, contando com equipamentos de última geração. Com uma...

LER

Culinária- Batata Frita – Família Burger

Vai uma fritas aí? Família Burger traz a iguaria como opção de aperitivo ou acompanhamento   Não é de hoje que a batata frita é um dos petiscos preferidos no Brasil e no mundo....

LER

Fitopatologia-Batata x Citros: Zebra da Batata Frita (Potato Zebra-Chip) x HLB (Greening) dos Citros

O que existe em comum e diferente? Durante a 17ª Conferência Trianual da Associação Européia da Batata (EAPR 2008), ocorrida em julho deste ano na Romênia, uma das palestras que chamou muito a atenção...

LER

Fitopatologia – Mofo Branco ou Podridão Branca da Haste: Um Desafio Para a Produção da Batateira (Solanum tuberosum L.)

LER