A Dra. Margarete Boteon é pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea), da ESALQ/USP, e responsável pelo projeto de inteligência de mercado do centro na área de frutas e hortaliças. Desde 2001, o Cepea acompanha e estuda o mercado de batata in natura.
Batata Show: Qual é a relação do Cepea com a Esalq? Como são realizados os estudos a respeito do mercado de batata pelo Centro?
Margarete Boteon: O Cepea é o centro de economia da ESALQ, ligado ao Departamento de Economia, Administração e Sociologia Rural. A sua atividade principal é o desenvolvimento da área de inteligência de mercado das cadeias agroindustriais mais relevantes do país. No caso da batata, diariamente consultamos os produtores, beneficiadores e atacadistas a respeito do plantio, colheita e comercialização do tubérculo. Paralelamente, temos uma equipe de pesquisadores que estudam essas informações e realizam análises econômicas a respeito do mercado de batata.
Batata Show: Como os produtores podem ter acesso a essas pesquisas?
Boteon: Nós temos uma publicação mensal, a Revista Hortifruti Brasil, na qual divulgamos informações de mercado, preços e perspectivas do mercado de batata e de outros oito produtos: cebola, tomate, manga, melão, mamão, banana, uva e citros. O acesso é gratuito e encontra-se disponível no nosso site (http://cepea.esalq.usp.br/hfbrasil). Os produtores de batata também podem solicitar um exemplar gratuitamente.
Batata Show: Após quatro anos de estudos a respeito da comercialização da batata no país, quais são as principais características da comercialização desse tubérculo na visão do Cepea?
Boteon: No geral, a comercialização de batata apresenta fortes oscilações de preços em resposta à variação da oferta. Essa variação de volume está correlacionada diretamente com a capacidade de investimento do produtor na área de plantio. Ampliação da área, como a que ocorreu em Vargem Grande e do Sul de Minas nesta safra de inverno, em função da capitalização dos produtores da safra anterior, deprimem os preços a níveis muito abaixo do seu custo de produção. Por outro lado, a redução de área, como na safra das águas 2004/05, impulsiona os preços a patamares muito superiores ao custo unitário, mas a pouca oferta não garante uma boa lucratividade. Isto é, a cadeia da batata enfrenta inelasticidade da demanda a preço e renda. Isso significa que a demanda pouca altera, porque o preço encontra-se mais atrativo e um aumento no poder de compra do consumidor não representará necessariamente um estímulo ao aumento das vendas do tubérculo. Além disso, o setor é bastante pulverizado em número de produtores, mas encontra-se cada vez mais concentrado na ponta compradora e a demanda por batata não cresce. Isso faz com que o produtor apresente margens de comercialização muito restrita.
Batata Show: Qual sua sugestão para melhorar a rentabilidade do produtor de batata?
Boteon: Não há uma saída fácil, a dificuldade na comercialização do produto não é um problema restrito dos bataticultores, mas de todos os produtores de frutas e hortaliças. A percepção deles é que a maior barreira na expansão da área de cultivo atualmente não é por restrições agronômicas e sim pela dificuldade de comercialização do produto. Há uma urgência em modernizar a estrutura comercial do setor de frutas e hortaliças nacional, priorizando a regularidade, qualidade, segurança e informação a respeito do produto para o consumidor final. O setor produtivo não vai agregar valor ao seu tubérculo, por melhor que seja sua qualidade e as suas características culinárias, se o comprador não valorizar esse produto para o consumidor final. O modelo atual de gestão das propriedades de batata, baseado em produtividade e escala, não será suficiente para garantir a lucratividade das lavouras no futuro. O conceito deve ser mais amplo, a produção deve ser planejada de acordo com as necessidades do consumidor final e o gr ande facilitador dessa integração (campo e consumidor) é uma estrutura atacadista/varejista mais moderna.
Batata Show: Quais são as principais mudanças que precisam ser realizadas para a melhoria da comercializaçao de batata no Brasil?
Boteon: É preciso colocar em prática um plano estratégico de modernização para o setor como um todo. Temos que focar em três ações: choque de gestão das propriedades, modernização dos canais de comercialização e promoção do consumo do tubérculo. Quanto à gestão das propriedades, o setor deve sempre buscar a eficiência produtiva e administrativa das propriedades, principalmente adotando práticas agrícolas que se adequem dentro dos conceito das Boas Práticas Agrícolas, produzindo um produto seguro e adequado às necessidades dos consumidores. Para agregar valor à produção, os compradores devem se preocupar mais em atender às necessidades dos consumidores e repassarem essa tendência para os produtores, estabelecendo uma parceira com o bataticultor para produzir um produto diferenciado. Aliado a estas duas ações, que priorizará um produto seguro, de qualidade e adequado às exigências dos consumidores, é vital o consumidor receber mais informações a respeito do produto quanto sua versatilidade culinária e seus benefícios nutricionais.
Batata Show: Como tem sido o consumo de batata no Brasil? Qual a perspectiva?
Boteon: O consumo de batata in natura nos lares reduziu em algumas metrópoles como em São Paulo, nestes últimos 30 anos. A razão é que os hábitos de consumo, principalmente nas grandes metrópoles nacionais, estão, cada vez mais, similares aos padrões de consumo dos países desenvolvidos, como o norteamericano. Isto é, as famílias buscam praticidade na hora de preparar os alimentos e, cada vez mais, realizam sua alimentação fora do lar. Avaliando especificamente o consumo da batata nos lares brasileiros, pode-se observar que o consumo do tubérculo nos lares reduziu mais de 40% entre 1975 e 2003, nas principais regiões metropolitanas. Por outro lado, é cada vez mais presente nos lares produtos prontos, alimentos derivados do tubérculo, como a batata pré-congelada. Nas camadas de maior poder aquisitivo do Brasil, com faturamento mensal familiar acima de 15 salários mínimos, o que representa 15% da população (ou 26 milhões de pessoas), o gasto mensal com batata nos lares era cerca de R$ 10,00 com o produto in natura e já aproximava-se de R$ 3,00 com batata pré-congelada, em 2003, especificamente para o consumo nos lares. Essa tendência de praticidade no futuro tende acentuar e a participação relativa da batata in natura deve reduzir nos lares em detrimento do produto minimamente processado e industrializado.
Batata Show: Como será a produção de batata nos próximos anos no Brasil?
Boteon: Se as regiões produtoras, cada vez mais, adotarem poucas variedades e altamente produtivas, como a Ãgata, a tendência é um aumento da oferta por causa dos ganhos de produtividade nas lavouras. Por outro lado, se o consumo per capita do tubérculo não aumentar, mesmo com o aumento da população no Brasil, o ganho de produtividade é mais do que suficiente para atendê-los, sem a necessidade de ampliação da área. O custo provalvemente reduzirá do tubérculo e os preços continuarão a se pressionados, principalmente se mantivermos a atual estrutura comercial. Com isso, a receita de lucratividade do setor vai ser como a de outras commodities agrícolas, isto é, a permanência do produtor no campo só será viável com o aumento de escala da produção, para cada vez mais, ter um produto competitivo no mercado. Aliado a isso, a concentração e o elevado poder de barganha das grandes redes varejistas continuarão pressionando significativamente as margens de comercialização do produtor. Isto pode gerar uma redução no número de produtores. Por isso, desde já, é importante o setor mudar sua estratégia de produção, indo além do ganho agronômico para agregar valor ao seu produto.
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